“O transporte público urbano precisa deixar de ser tratado como serviço para os mais necessitados, mas como elemento associado para o desenvolvimento urbano das cidades”. A análise é do especialista em Planejamento da Mobilidade Urbana, José Carlos Grafite Xavier (foto), proferida durante o painel de encerramento do Diálogo Público sobre mobilidade urbana e transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia realizado por videoconferência durante todo o dia de hoje (22/jun) pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-GO).

Grafite destacou que vivenciamos um ciclo vicioso no que diz respeito ao desenvolvimento urbano insustentável e que os problemas precisam ser enfrentados estruturalmente. O palestrante citou o crescimento desordenado das cidades e a falta de planejamento como alguns dos principais fatores para as dificuldades enfrentadas, mas reconhece que os resultados produzidos, maléficos para quase todos acabam de algum modo favorecendo alguns setores que acabam tendo algum tipo de vantagem.

Segundo ele, o ciclo contém elementos como a política inadequada de uso do solo e de investimentos das cidades que não levam em conta a mobilidade urbana, contribuindo para o aumento de veículos individuais motorizados nas ruas. Isso agrava os congestionamentos e gera pressão política por maior capacidade de tráfego nas ruas ao mesmo tempo em que alimenta a necessidade de obras vultosas como túneis e viadutos. O resultado é a transferência dos congestionamentos para outros pontos e a retroalimentação da necessidade de investimentos.

Outra consequência é o aumento do tempo de viagem provocado pelos congestionamentos, exigindo mais frota para manter o nível do serviço, pressionando custos e tarifas. Com isso, a população procura meios de transporte possíveis, com modos alternativos, como veículos particulares, vans, mototáxis e aplicativos. Tudo isso provocando mais congestionamentos e dando continuidade ao ciclo.

A título de solução, ele propõe a requalificação da gestão dos serviços de transporte coletivo, mediante a constituição de um consórcio público envolvendo o governo estadual e os municípios da região metropolitana. Sugere também investimentos em infraestrutura visando a priorização cada vez maior do transporte coletivo, garantindo maior rapidez e conforto nas viagens e a elaboração de um plano de mobilidade urbana pra Goiânia e no mínimo para as cidades de Aparecida de Goiânia, Trindade, Goianira e Senador Canedo.

Outra questão abordada em sua palestra foi o tipo de tarifação imposta aos usuários do transporte coletivo na região metropolitana. Para ele, é necessário avaliar a possibilidade do custeio da tarifa pelo poder público no todo ou em parte, agregando responsabilidades para a União, o Estado e os municípios envolvidos.

O encontro virtual foi encerrado pelo presidente do TCE-GO, conselheiro Edson Ferrari, que avaliou como positivas todas as contribuições. “Quem não usa o transporte coletivo muitas vezes enxerga esses problemas todos muito à distância, e as vezes eles passam desapercebidos, e este Diálogo Público fez ver ao TCE que ele pode contribuir para equacionar as questões e fazê-las chegar até aos responsáveis para busquem soluções”, concluiu.

O evento, transmitido pelo YouTube e pelas redes sociais, reuniu autoridades, especialistas participantes de vários Estados. Foi a primeira realização da recém-criada Escola de Contas do Controle Externo, Escoex, que substituiu  o Instituto Leopoldo de Bulhões, do TCE-GO, sob a coordenação de Jaqueline Nascimento.

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Texto: Alexandre Alfaix